Colunistas | Gestão
O que é que tem dentro da caixa-preta da TI das grandes corporações?
Marco Leone Fernandes
Atualizado em 16/07/2009
Recentemente participei do maior evento de tecnologia da informação da América Latina, certamente um dos melhores do mundo. O que mais me chamou atenção foi uma apresentação de um CIO mundial de um grande banco, quando testemunhei um projeto grandioso de integração e modernização de suas principais aplicações, sobretudo por se tratar de uma empresa global que cresce por meio de aquisições.
Conversando com outros CIOs de grandes bancos locais, percebi que de um modo ou de outro a estória é bem semelhante: sistemas heterogêneos e proprietários vindos de diversas aquisições que convivem com o legado já existente, se conectando como um grande quebra-cabeça com o cliente final.
O mais interessante é que a maior parte de tudo que é investido por essas empresas destina-se, tão somente, a “manter as luzes acesas” – ou seja, as aplicações funcionando.
Isso, por si só, já se constitui em grande desafio, principalmente ao tomarmos como exemplo o setor bancário brasileiro: onde menos de 50% da população é “bancarizada”, mesmo conquistando mais e mais clientes dia-a-dia os sistemas bancários precisam manter a mesma performance, segurança, infraestrutura e disponibilidade.
Na média, aproximadamente 80% de todo o investimento é para isso, e somente os 20% restantes vão para a inovação e para a criação de novos produtos para os seus clientes.
Essas aplicações foram desenvolvidas na década de 60 e o grande desafio foi modernizá-las. É certo que muito já foi reescrito, mas a um alto risco e custo, e que uma outra parte foi substituida por pacotes que, apesar de apresentarem um risco menor, continuam custando muito caro em razão da necessidade de customização e de um longo prazo de implementação.
Parte dessas aplicações foi migrada para ambientes abertos e modernizada, como o caso do CIO acima, e pelo que parece, pelo baixo risco e curto prazo de implantação, tem se demonstrado a alternativa mais interessante.
Comecei minha vida profissional como programador, e durante os últimos 20 e poucos anos assisti a ascensão e a queda de muitas linguagens de programação. Neste ano, comemora-se o cinquentenário da mais longeva de todas as linguagens: o COBOL, que, não obstante os anos que se passaram, continua firme e forte.
É importante ressaltar que mais de 70% das aplicações de missão crítica das grandes empresas ainda usam COBOL. São mais de 65 bilhões de linhas de código com uma performance e alta disponibilidade invejável!
O grande desafio para esses usuários é quanto ao custo de desenvolver, testar e “rodar” essas aplicações em sistemas proprietários, pois o custo por MIPS pode variar de 500 até 4000 mil dólares, dependendo do ambiente e do volume processado. Esse ambiente agora está renovado, podendo funcionar diretamente na Web inclusive no modelo de SaaS e cloud computing.
Talvez sejam essas as razões pelas quais muita gente jovem venha estudando essa linguagem já “balsaquiana”, que continua com demanda de empregos maior do que a capacidade do mercado em oferecer novos profissionais, traduzindo-se em emprego garantido para aqueles que a dominam, coisa muito rara nos dias de hoje em qualquer profissão.
Muita coisa mudou nos últimos 50 anos, mas neste nosso mundo de TI, o COBOL continua sendo o motor das grandes aplicações e, se a opinião dos mais entendidos no assunto se concretizar, ele continuará por aí por pelo menos mais 50 anos. Quem viver verá!
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